sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Estresse nosso de cada dia


O Estresse se tornou uma das principais áreas de preocupações das sociedades modernas, pois é, atualmente, um dos maiores responsáveis pela diminuição da qualidade de vida dos seres humanos. E por isso, é considerado um grande problema social e também de saúde publica.

Stresse é uma expressão da língua inglesa que significa pressão; essa palavra provém do verbo latim stringo, stringere, strinxi, strictum que tem como significado apertar, omprimir, restringir. Com o decorrer do tempo, a palavra Stresse passou a significar também as pressões que incidem sobre um órgão corporal ou sobre a mente humana.

O estresse não é, a principio, uma doença; é uma resposta não específica do corpo e, ou da mente a qualquer estímulo ou exigência externa sobre a pessoa, e pode comprometer seriamente a saúde se chegar numa alto nível de intensidade.

O estresse não está nem na pessoa e nem na situação, mas na interação entre a pessoa e a situação (como a pessoa reage a situação, e o que a situação provoca na pessoa).

Diversas características pessoais podem influenciar a experiência de estresse de cada um: o locus de controle, a afetividade negativa, a auto-estima. Portanto, a percepção de stress é subjetiva, ou seja, o mesmo estressor pode ser percebido de forma e intensidade diferente por pessoas diferentes.

Os principais sintomas físicos do estresse envolvem cansaço, falha de memória, dores de cabeça, dores nas costas, dificuldade para dormir, queda de cabelo, gastrite, problemas intestinais, sintomas cardiovasculares, e outros.

Os sintomas psicológicos mais frequentes resultantes do estresse são a baixa satisfação e baixo envolvimento com o trabalho, tensão, ansiedade, depressão, frustração, irritabilidade e burnout (esgotamento).

Entre os sintomas comportamentais estão o menor desempenho, aumento da taxa de acidentes de trabalho e de erro, maior consumo de álcool e drogas no trabalho, comportamentos agressivos ou comportamentos de fuga, como o aumento de absentismo e greves. A nível mais pessoal pode levar a comportamentos prejudiciais para a saúde, como tabagismo e consumo de cafeína.

Diante de todos esses sintomas, o estresse gera consequências na vida pessoal, nos relacionamentos sociais, e na vida profissional, tanto para os profissionais em si, quanto para as organizações.

Alguns autores nomearam o conjunto de perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico associado às experiências de trabalho como “estresse ocupacional” ou “bornout”.

O Burnout está associado especificamente ao mundo do trabalho e ocorre pela cronificação de um processo de estresse; diante desse quadro o profissional desenvolve o que chamamos de despersonalização, isto é, ele passa a ter um contato frio e impessoal, até mesmo cínico e irônico com as pessoas receptotas de seu trabalho.

No Brasil, a lei nº 3048/99 reconhece a Sindrome de Esgotamento Profissional como doença de trabalho, síndrome esta entendida como sensação de estar “acabado”.

Existem dois grandes tipos de causas de estresse no trabalho:

- Variáveis sociais: como o crescimento, a instabilidade econômica, ou a taxa de desemprego;

- Características organizacionais: como a dimensão da organização, a tecnologia, o nível de hierarquia, o grupo ocupacional a que se pertence; as características da tarefa, o estilo de liderança, as relações de trabalho, a estrutura, o clima organizacional e as condições físicas de trabalho.

As consequências para as organizações do estresse provêm das consequências individuais, uma vez que as organizações são compostas por pessoas, causando um significativo aumento de custos, sejam eles diretos ou indiretos.

Nos custos diretos estão os decorrentes aumento do absentismo (ausências dos trabalhadores no processo de trabalho), da taxa de rotatividade, da quebra de performance dos trabalhadores, do aumento do número de acidentes de trabalho e de erros de produção. Os custos de saúde e o pagamento de indemnizações e as compensações por lesões relacionadas com o estresse.

Os custos indiretos estão associados à diminuição da motivação dos funcionários, no moral e na satisfação no trabalho, à degradação das relações de trabalho, a falhas na comunicação e a erros na tomada de decisão.

Existem também os estressores extraorganizacionais, que são os acontecimentos da vida cotidiana, que são importantes fontes de pressão. E é importante considerar que os fatores organizacionais e os extra-organizacionais se interpenetram, se misturam. Os problemas do quotidiano fora do trabalho não ficam fora da organização, e os problemas de trabalho em si, não ficam apenas no âmbito da organização.



“Dados internacionais revelam que 60% a 70% da população mundial sofrem algum nível de estresse justamente por não saberem como se defender da coleção de pequenos imprevistos, exigências, expectativas e frustrações que brotam cotidianamente.”

“Em uma pesquisa com 1000 executivos, 70% que manifestaram sintomas de estresse, 30% estavam no nível Maximo de desgaste, o chamado burnout (ou síndrome de esgotamento profissional). O trabalho é a queixa de 70% das pessoas com estresse elevado. Questões pessoais e familiares são responsável por apenas 31%.”



Assim, considerando que o estresse faz parte da vida, do dia a dia, o que fazer para lidar com ele? Como manter, ou melhorar, a qualidade de vida no dia a dia, e no trabalho? O que fazer para combater o estresse para viver uma vida mais harmoniosa no trabalho, nas relações e no dia a dia?

1.                      Autoconhecimento – Identificar o que nos tira do serio, saber o que nos deixa irritados e impor um limite é a primeira estratégia antiestresse.



2.                      Recupere a energia – durante o dia são necessários pequenos intervalos para a recuperação da energia. Encontre o seu ritual de recuperação, tirar um cochilo de 15 minutos após o almoço, sair do local de trabalho, etc.



3.                      Aceite a realidade do que não pode mudar – existem coisas que não se pode mudar, aceite-as, e mude seu modo de encarar esses fatos.



4.                      Massagem nos pés - Faça um escalda-pés em casa, mergulhe os pés em um recipiente fundo com 2 litros de água quente (ferva a água e deixe a temperatura esfriar até ficar agradável) e pingue óleos essenciais de mangerona e de lavanda (15 gotas de cada um). Se puder, acrescente bolinhas de gude ao recipiente, pressionando a planta dos pés sobre elas. O aroma, indutor do sono, a água que relaxa a musculatura, e a massagem são um excelente aliado do descanso.



5.                      Ouça musicasouça musicas de qualquer tipo e estilo, o que importa é deixar a alma feliz. Qual a música que lhe faz bem? Ligue o som e aproveite.



6.                      Faça algo divertidoMantenha um hobby que lhe dê prazer. O prazer é fundamental para nos desligarmos das ocupações e preocupações.



7.                      Exercício físico - qualquer tipo de atividade é válida desde que você se sinta bem e pratique por 30 minutos, cinco vezes por semana ou ainda uma hora, três vezes por semana.



8.                      Aproveite dos aromas - Pingue 15 gotas em um aromatizador ou em um recipiente contendo 1 litro de água quente. Antes de deitar, pingue três gotas de lavanda numa bolinha de algodão e a coloque entre a fronha e o travesseiro. Existem aromas que estimulam a produção de neurotransmissores ligados ao bem-estar.



9.                      Mude o seu modo de pensar - Troque o pensamento negativo por afirmações positivas. O pensamento negativo e defensivo (“Não suporto esse emprego”, “não ganho o suficiente”) não ajudará a resolver nenhum problema, ao contrario tornará a sua vida mais difícil.




Referencias bibliográficas:

Ame-se e cure sua vida – Louise L. Hay

Mente, corpo e alma em equilíbrio. O estresse é um coadjuvante da vida. Não dá para expulsá-lo. Revista Vida Simples.


Postado por: Tatiane Medeiros Cunha

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O desenvolvimento psicológico da criança de aproximadamente 1 ano e 6 meses a 3 anos – a fase da separação


A criança com aproximadamente 1 ano e 6 meses ate 3 anos de idade está na fase que chamamos de separação, a fase da decisão de pensar. Digo aproximadamente, porque a idade cronológica pode ter pequenas variações de acordo com cada criança.

As principais tarefas psicológicas da criança pequena consistem em melhorar e desenvolver sua capacidade de falar, aprender mais coisas a respeito de seus próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros, tornar-se individuo independente e, finalmente, fornecer energia ao estado de Ego de adulto.

Após ter explorado coisas em seu ambiente durante algum tempo, elas agora voltam cada vez mais sua atenção para as pessoas. Durante a fase anterior, elas faziam coisas para ver o que acontecia; mas agora, no estagio da separação, elas observam a reação das pessoas diante delas, especialmente das pessoas com quem estão em simbiose.

“Não” é a fala característica que anuncia a chegada dessa fase do desenvolvimento (separação). As crianças tornam-se cada vez mais negativistas, tomando posições contra nossos pontos de vista, sejam eles quais forem. O principal objetivo desses “nãos” é levar-nos, pais e cuidadores, a insistir para que comecem a pensar.

A fase negativista da criança é irritante, cansativa e capaz de transformar os pais em pessoas extremamente irritadas. Então, reconheça que está irritado com o comportamento negativista da criança em vez de lançar acusações do tipo “você é quem estraga o nosso filho” dirigidas aos parceiros.

Crianças nesse estágio estão preocupadas com o que lhes pertencem, à medida que começa a ver a diferença entre elas próprias e os outros. Essas crianças brincam perto uma das outras, mais ainda não brincam com as outras crianças. O processo de socialização está se desenvolvendo agora.

O processo de separação é frequentemente tempestuoso, uma das emoções mais importantes experimentadas pelos pais e pela criança é a raiva. Quando os pais dão nomes a seus próprios sentimentos, as crianças juntam essas palavras com a linguagem do corpo.  Elas precisam aprender que cada um de nós experimentamos esses sentimentos, que cada sentimento tem nome, que é ok ter esses sentimentos, seja eles negativos ou positivos, e que se espera que façamos alguma coisa a respeito do que sentimos. As crianças aprendem observando seus pais; e também aprendem com o que os pais fazem a elas.



Com essa idade, elas passam para um nível mais sofisticado de consciência, julgamento e utilização de símbolos (palavras e brincadeiras de faz de conta), dispõem de um melhor controle de seu corpo e podem devotar maior quantidade de tempo ao mundo exterior. Elas já sabem e podem tirar suas roupas sozinhas, abrir maçanetas de portas, encher e esvaziar copos, encaixar coisas e sabem equilibrar melhor seu corpo.

A parte da estrutura da personalidade que se está desenvolvendo nessa fase é o estado de ego adulto.

Nesse estagio, as crianças começam a perceber que tem uma parte de trás. Tomam conhecimento de determinadas áreas de seu corpo e dos produtos que eliminam.

E assim, é nesse estágio que elas começam a treinar o uso do banheiro. O treino do uso do banheiro deve ser aplicado gradualmente. É importante saber que as crianças aprendem a prender a urina e as fezes muito antes de serem capazes de deixá-las correr voluntariamente.

Sabe-se que as crianças estão prontas para iniciar o treino ao uso do banheiro quando permanecem limpas por períodos longos (dispõem de algum controle), correm, andam e sobem com facilidade (controle das partes inferiores do corpo), demonstram percepção e insatisfação com as fraldas sujas, demonstram que as fraldas estão sujas andando com os pés bem abertos, e quando conseguem informar aos pais o que está havendo (sistema de comunicação já desenvolvido).

Deve-se considerar que o treino do uso do banheiro é parte do crescimento social e emocional da criança, e essencial para o seu desenvolvimento psicológico.

Durante o estagio da separação, as crianças tomam a responsabilidade de se manter limpas e secas, de satisfazer a sua fome, de ir para a cama e de obedecer a determinadas regras básicas de segurança.

As crianças que estão começando a pensar por si só comportam-se com muita frequência de maneira inteligente com os adultos com quem não estão em simbiose, mas param de pensar de todo quando o seu companheiro de simbiose está por perto.

Podemos ter dificuldades em nos separar de uma determinada criança. Com isso, podemos estar transmitindo, de maneira muito sutil, a mensagem de que nosso filho é tão inteligente/inferiorizado que não precisa começar a crescer agora.



Para resolver os problemas de separa dessa fase entre as crianças e os pais,  deve-se romper a simbiose e insistir para que a criança pense por si própria. “Agora, chega. Estou cansada de resolver todos os seus problemas para você. De agora em diante, você vai encarregar-se de resolver alguns deles por conta própria. Não vou me afastar; continuarei a cuidar de você, a protegê-lo e a ajudá-lo nos problemas que você ainda não possa realmente resolver.” Essa garantia é vital.

É preciso que as crianças saibam que pode haver separação sem que haja afastamento de nossa parte. É preciso que saibam que é ok que pensem e que de fato espera-se que pensem.

As crianças precisam ouvir que devem pensar, que a separação é necessária e segura, que ainda podem ter suas necessidades satisfeitas e que não a abandonaremos.

Pais exageradamente protetores e que continuam fazendo pelo filho mais do que deviam, interferem com a separação natural que é apropriada a essa idade. Outro perigo é a culpa – ficando zangados, sentindo-se culpados e deixando de exigir o suficiente da criança.

Quando os pais se deparam a individualidade em desenvolvimento dos filhos, reedita os próprios esforços iniciais para pensar, experimentando mais uma vez o medo de ser independentes e responsáveis.

Para maior êxito na comunicação, os pais devem usar frases curtas, pois explicações detalhadas nessa idade não são compreendidas pelas crianças.

Abaixo algumas dicas para ajudar a ensinar seu filho a pensar.



Como ensinar a pensar:

·         Encoraje a liberdade e o controle do corpo.

·         Permita que as crianças expressem sentimentos positivos e negativos.

·         Expresse seus próprios sentimentos de maneira clara e apropriada, tanto os positivos quanto os negativos.

·         Considere os sentimentos negativos como a indicação de um problema a ser resolvido.

·         Ensine à criança a solução de problemas por meio de ações e de sentenças curtas.

·         Apresente exigências e instruções de maneira clara, positiva e realística, em termos acessíveis a compreensão da criança

·         Apresente legendas para objetos, atividades, pessoas e sentimentos.

·         Encoraje o comportamento independente e a capacidade de pensar.

·         Deixe a criança saber que pode separar-se e que você estará sempre por perto, para protegê-la e acariciá-la.

·         Encoraje a comunicação verbal respondendo ao esforço da criança em falar.



Referencia Bibliográfica

BABCOCK, D. E. & KEEPERS, T. D. Pais OK Filhos OK. Circulo do Livro, São Paulo, 1976.

Postado por Tatiane Medeiros Cunha

domingo, 15 de abril de 2012

O Círculo dos 99

Parece uma historinha boba, mas leia e veja se vc não está nesse esquema...
Era uma vez um Rei muito triste; que tinha um pajem, que como todo pajem de um Rei triste, era muito feliz.... Todas as manhãs, o pajem chegava com o desjejum do seu Amo, sempre rindo e cantarolando alegres canções... O sorriso sempre desenhado em seu rosto, e a atitude para com a vida sempre serena e alegre...

Um dia o Rei mandou chamá-lo:
- Pajem - disse o Rei - qual é o seu segredo?
- Qual segredo, Alteza?
- Qual o segredo da tua alegria?
- Não existe nenhum segredo, Majestade...
- Não minta, pajem... bem sabes que já mandei cortar muitas cabeças por ofensas menores do que a sua mentira!
- Mas não estou mentindo! Não guardo nenhum segredo.
- E por que estás sempre alegre e feliz?
- Majestade, eu não tenho razões para estar triste: muito me honra servir à Vossa Alteza, tenho minha esposa e meus filhos, e vivemos na casa que a Corte nos concedeu; somos vestidos e alimentados, e sempre recebo algumas moedas de prata para satisfazer alguns gostos.... como não estar feliz?
- Se você não me disser agora mesmo qual é o seu segredo, mandarei decapitá-lo - disse o Rei - Ninguém pode ser feliz por essas razões que você me deu!
- Mas Majestade, não há nenhum segredo... Nada me satisfaria mais do que sanar a vossa curiosidade, mas realmente não há nada que eu esteja escondendo.
- Vá embora daqui antes que eu chame os guardas.
O pajem sorriu, fez a habitual reverência e deixou o Rei em seus pensamentos.
O Rei estava como louco.
Não podia entender como o pajem poderia ser feliz vivendo em uma casa que não lhe pertencia, usando roupas de terceira mão e se alimentando dos restos dos cortesãos.
Quando se acalmou mandou chamar o mais sábio de seus conselheiros, e lhe contou a conversa que tivera com o pajem pela manhã.
- Sábio, por que ele é feliz?
- Ah, Majestade! O que acontece é que ele está fora do Círculo...
- Fora do Círculo?
- Sim.
- E é isso o que faz dele uma pessoa feliz?
- Não, Majestade. Isso é o que não o faz infeliz....
- Vejamos se entendo: estar no Círculo sempre nos faz infelizes?
- Exato.
- E como ele saiu desse tal Círculo?
- Ele nunca entrou.
- Nunca entrou? Mas que Círculo é esse?
- É o Círculo dos 99...
- Realmente não entendo nada do que você me diz.
- A única maneira para que Vossa Alteza entenda seria mostrando pelos fatos.
- Como?
- Fazendo com que ele entre no Círculo.
- Isso! Então o obrigarei a entrar!
- Não, Alteza, ninguém pode ser obrigado a entrar...
- Então teremos que enganá-lo
- Não será necessário... se lhe dermos a oportunidade, ele entrará por si mesmo.
- Por si mesmo? Mas ele não notará que isso acarretará sua infelicidade?
- Sim, mas mesmo assim entrará... Não poderá evitar!
- Me diz que ele saberá que isso será o passo para a infelicidade e que mesmo assim entrará?
- Sim. O senhor está disposto a perder um excelente pajem para compreender a estrutura do Círculo?
- Sim.
- Então nesta noite passarei a buscar-lhe. Deves ter preparada uma bolsa de couro com 99 moedas de ouro. Mas devem ser exatas 99, nem uma a mais, nem uma a menos.
- O que mais? Devo levar escolta para proteger-nos?
- Nada mais do que a bolsa de couro, Majestade...
- Então vá. Nos vemos à noite
Assim foi...
Nessa noite o sábio buscou o Rei e juntos foram até os pátios do Palácio. Se esconderam próximo à casa do pajem, e lá aguardaram o primeiro sinal.
Quando dentro da casa se acendeu a primeira vela, o sábio pegou a bolsa de couro e junto a ela atou um papel que dizia as seguintes palavras: "Este tesouro é teu. É o prêmio por seres um bom homem. Aproveite e não conte a ninguém como encontrou esta bolsa".
Logo deixou a bolsa com o bilhete na porta da pajem. Golpeou uma vez e correu para esconder-se. Quando o pajem abriu a porta, o sábio e o Rei espiavam por entre as árvores para verem o que aconteceria. O pajem viu o embrulho à sua porta, olhou para os lados, leu o papel, agitou a bolsa e, ao escutar o som metálico, estremeceu dos pés à cabeça, apertou a bolsa contra o peito e rapidamente entrou em sua casa.
O Rei e o sábio se aproximaram então da janela para presenciar a cena.
O pajem havia despejado todo o conteúdo da bolsa sobre a mesa, deixando somente a vela para iluminar. Havia se sentado e seus olhos não podiam crer no que estavam vendo...
Era uma montanha de moedas de ouro!
Ele, que nunca havia tocado em uma dessas, de repente tinha um monte delas...
Ele as tocava e amontoava, acariciava e fazia brilhar à luz da vela. Juntava e esparramava, fazendo pilhas...

E assim, brincando, começou a fazer pilhas de 10 moedas. Uma, duas, três, 4, 5.... e enquanto isso somava 10, 20, 30, 40, 50... até que formou a última pilha... 99 moedas?
Seu olhar percorreu a mesa primeiro, buscando uma moeda a mais, logo o chão e finalmente a bolsa. "Não pode ser" – pensou.
Pôs a última pilha ao lado das outras 9 e notou que realmente esta era mais baixa.

- Me roubaram! Me roubaram - gritou

Uma vez mais procurou por todos os cantos, mas não encontrou o que achava estar faltando....
Sobre a mesa, como que zombando dele, uma montanha resplandecia e lhe fazia lembrar que haviam SOMENTE 99 moedas. "99 moedas... é muito dinheiro" - pensou -
"Mas falta uma... Noventa e nove não é um número completo. 100 é, mas 99 não..."
O Rei e o sábio espiavam pela janela e viam que a cara do pajem já não era mais a mesma: ele estava com as sobrancelhas franzidas, a testa enrugada, os olhos pequenos e o olhar perdido... sua boca era uma enorme fenda, por onde apareciam os dentes que rangiam...
O pajem guardou as moedas na bolsa, jogou o papel na lareira e olhando para todos os lados e constatar que ninguém havia presenciado a cena, escondeu a bolsa por entre a lenha. Pegou papel e pena e sentou-se a calcular. Quanto tempo teria que economizar para poder obter a moeda de número 100?

O tempo todo o pajem falava em voz alta, sozinho....Estava disposto a trabalhar duro até conseguir. Depois, quem sabe, não precisaria mais trabalhar... com 100 moedas de ouro ninguém precisa trabalhar.
Finalizou os cálculos. Se trabalhasse e economizasse seu salário e mais algum extra que recebesse, em 11 ou 12 anos conseguiria o necessário para comprar a última moeda.

" Mas 12 anos é tempo demais... Se eu pedisse à minha esposa que procurasse um emprego no vilarejo, e se eu mesmo trabalhasse à noite, em 7 anos conseguiríamos" - concluiu depois de refazer os cálculos -
"Mesmo sendo muito tempo, é isso o que teremos que fazer..."

O Rei e o sábio voltaram ao Palácio.
Finalmente o pajem havia entrado para o Círculo dos 99!!!
Durante os meses seguintes, o pajem seguiu seus planos conforme havia decidido naquela noite.
Numa manhã, entrou nos aposentos reais com passos fortes, batendo nas portas, rangendo dentes e bufando com todo o mau humor típico dos ultimos tempos...

- O que lhe acontece, pajem? - perguntou o Rei de bom grado
- Nada, não acontece nada...
- Antigamente, não faz muito, você ria e cantava o tempo todo....
- Faço ou não o meu trabalho?
- O que Vossa Alteza esperava?
- Que além de pajem sou obrigado a estar sempre bem por que assim o deseja?
Não se passou muito e o Rei despediu o seu pajem, afinal, não era nada agradável para um Rei triste ter um pajem mau humorado o tempo todo...
Você, Eu e todos ao redor fomos educados nessa psicologia: Sempre falta algo para estarmos completos, e somente completos podemos gozar do que temos...
Portanto, nos ensinaram que a Felicidade deve esperar até estar completa com aquilo que falta. E como sempre falta algo, a idéia volta ao início e nunca se pode desfrutar plenamente da vida...Mas, o que aconteceria se a iluminação chegasse às nossas vidas e nos déssemos conta, assim, de repente, que nossas 99 moedas são os nossos 100% ?
Que nada nos faz falta?
Que ninguém tomou aquilo que é nosso?
Que não se é mais feliz por ter 100 e não 99 moedas?
Que tudo é uma armadilha posta à nossa frente para que estejamos sempre cansados, mau humorados, desanimados, infelizes?
Uma armadilha que nos faz empurrar cada vez mais e ainda assim tudo continue igual... eternamente iguais e insatisfeitos....
Quantas coisas mudariam se pudéssemos desfrutar de nosso tesouro tal como é!!!
Se este é o seu problema, a solução para sua vida está em saber valorizar o que você tem ao seu redor, e não lamentar-se por aquilo que não tem ou que poderia ter...

(Autor Desconhecido)
 Postado por Fabiana Vitorino