terça-feira, 23 de agosto de 2011

É brincando que agente cresce e vive bem com o outro! Por Fabiana Vitorino

Olhando para a maneira como as jovens tem vivenciado as questões de relacionamento afetivo nos dias de hoje, fico a pensar em como se dá esse processo de transição, entre a inocência da infância e o despertar do corpo e dos desejos na adolescência e juventude. Lembro-me que há muitos anos, a brincadeira preferida das meninas era com a boneca Barbie, sua irmã Suzie e seu namorado Ken, ou Bob. Com estes personagens diversas histórias aconteciam, conflitos em família, Barbie e suas amigas, Barbie e seu eterno namorado Ken, quantas invenções criativas, e possibilidades de vivenciar papéis: a da mãe da Barbie, da própria Barbie, da irmã, do namorado, dos amigos, era como se ali fosse o laboratório que iria preparar as pequenas meninas para a vida adulta, ou pelo menos pré-adulta, em que as preocupações seriam reais, quanto ao sexo oposto, quanto ao corpo e as necessidades a serem atendidas seriam diferentes, passando o brincar a não mais ter seu espaço reservado.
Atualmente, percebo uma dificuldade em alguns jovens ao encarar um relacionamento afetivo, se antes o namoro era algo natural de acontecer, bastando para isso um primeiro beijo e uma vontade de se conhecer, hoje a moda é o ficar, o não se entregar, o não se comprometer, o não se envolver. Palavras como intimidade, respeito com o outro, conquista estão aparecendo cada vez menos nas posturas dos jovens da modernidade. Quando falo intimidade, falo em abertura, em poder ser quem é, sem medo, sem receios, compartilhar o que pensa e sente, e na mesma intensidade receber do outro também.
Percebo que parte desta problemática advém dos incentivos da mídia, que se faz através da Tv, na internet, dentre outros, para que a sexualidade seja vivida, seja nas roupas com conotação mais adulta produzida para este público-alvo, sejam os programas direcionados aos jovens, ou mesmo aos adultos, sendo que aqueles acabam por assistir, como os reality shows, que banalizam a sexualidade, o respeito pelo outro e motivam as crianças e adolescentes a anteciparem eventos de seu desenvolvimento que tem hora e lugar para acontecer.
 Isso tem contribuído para a construção de relações fugazes, e olho para o passado e percebo que as meninas que se tornam moças, dispõe de muita pouca oportunidade para aprender a construir uma relação no brincar, que as ensine o valor de estar com o outro, a cumplicidade, os desafios da vida a dois, a confiança. O treino não é mais feito como era antes, e o que entra em cena é a precocidade, na época em que poderiam estar pensando em bonecas e bonecos e sonhando com uma vida futura, já estão desejando o outro real, não estando tão preparados para a relação afetiva.
Trabalhando com crianças, entendo que a questão do brincar tem uma grande importância na vida das pessoas, é uma maneira de conhecer o que há dentro da criança, os seus sentimentos, desejos, e funciona como objeto de socialização, de preparação para a vida nos grupos, nos pares, posso treinar papéis e aprender a lidar com o outro ali mesmo...numa simples brincadeira. E se hoje tais práticas tem sido abandonadas, é uma pena observar uma juventude que cresce sem tantos referenciais para desfrutar do relacionamento maduro.
Mas acredito no poder de mudança das pessoas, e no potencial criativo e inovador dos jovens, que ao se depararem com os conflitos que permeiam seus relacionamentos, de alguma forma, encontram maneiras de sinalizar o mesmo, seja por meio de sua rebeldia, ou pela sua fala madura, mesmo num corpo em formação. Sendo assim, acredito que há possibilidades para aparar as “arestas” dessa transição infância – adolescência e devolver as crianças o valor da brincadeira, seja ela de roda, de casinha, de mãezinha da rua, de pique-pega e pique-esconde.

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