quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Assertividade

Assertividade
Por Psi. Veruska Santos e Prof. Dra. Mônica Portella


Assertividade é a capacidade de expor de maneira objetiva, clara e direta o que se pensa, sente ou quer sem ser passivo tampouco agressivo. Envolve auto-respeito e respeito pelos outros. É você exercer os seus direitos sem violar os direitos dos outros, se colocando, sem ser agressivo e sem ser passivo. Dizer sim quando quer dizer sim, dizer não quando quer dizer não, solicitar mudança de comportamento são exemplos de comportamentos assertivos que muitas pessoas tem dificuldade em executar.  
          A assertividade refere-se a um continuum que vai do comportamento passivo passando pelo comportamento assertivo, até chegar ao comportamento agressivo.
          A pessoa agressiva, geralmente, consegue aquilo que quer. Ela é direta, incisiva, usa um tom de voz alto, utiliza o dedo em riste. Muitas vezes faz ameaças, possui um volume alto onde nem sempre dá pra entender o que é dito. O fato é que, na maioria das vezes, o agressivo consegue sua meta, no entanto, a longo prazo, a agressividade tem um custo alto. Para Caballo (2008), Smith (1997), Alberti e Emmons (2008), a raiva tem um efeito muito negativo na clareza e eficácia da comunicação com as outras pessoas. Elas prestam mais atenção à raiva e menos ao que está se tentando comunicar. O agressivo desrespeita os direitos individuais dos demais e faz com que o outro se sinta magoado, indefeso e humilhado. Sua atitude gera ressentimento e frustração, sentimentos que mais tarde poderão retornar como vingança.
          No comportamento passivo, a pessoa vai sempre ceder e fazer tudo que os outros querem porque o que o passivo menos se importa é com ele. Então é fácil lidar com pessoas passivas. O tom de voz é baixo, volume bem baixinho, às vezes inaudível, não encara o interlocutor, olha para baixo, expressão de medo, de tristeza, quase não gesticula, esfrega as mãos demonstrando ansiedade. Estudos mostram que sintomas físicos como dor de cabeça, cansaço geral, problemas estomacais, alergias e asma estão associados ao comportamento não assertivo.
          No comportamento assertivo, nem sempre a pessoa consegue aquilo que quer. Às vezes é mais fácil conseguir o que se quer pela intimidação por comportamento agressivo do que pelo assertivo, no entanto, o assertivo defende suas posições sem ansiedade, expressa seus sentimentos de maneira honesta e tranqüila. O assertivo exerce seus direitos sem negar os dos outros, vai direto ao ponto, usa um tom de voz equilibrado, olha diretamente nos olhos, a velocidade da fala é tranqüila, a expressão da face é relaxada, porém séria.
          Ninguém é 100% assertivo com todas as pessoas e em todas as situações. O certo não é ser assertivo sempre. Uma pessoa competente socialmente é capaz de transitar por todo o continuum. Dependendo do objetivo da pessoa, de com quem ela está lidando vai adotar um comportamento ou outro. O comportamento assertivo é específico da pessoa e da situação, não é universal. Numa situação onde a pessoa está sendo assaltada, por exemplo, se a pessoa agir assertivamente ela provavelmente irá argumentar com o ladrão porque ele não deve levar a sua carteira. Nessa situação, ser assertivo não é sinônimo de competência social, muito pelo contrário, ser assertivo nesse momento é burrice, o comportamento adaptativo socialmente falando, nesse caso é ser passivo e entregar a carteira sem argumentações.
          Um exemplo onde o adaptativo socialmente é ser agressivo é quando você precisa de alguma documentação e já compareceu à instituição diversas vezes com o protocolo e nada acontece. Nessa situação, você não tem um vínculo com aquela pessoa, provavelmente nunca mais vai vê-la, não está nem um pouco preocupado com o que vão pensar e apenas quer seu documento. Muitas vezes, nessa situação, o adaptativo é ser agressivo fazendo um escândalo e tendo um ataque de nervos e, provavelmente, rapidamente irão resolver o seu problema.
          Como vimos nos exemplos acima, existem situações onde o adaptativo é ser passivo e outras onde o adaptativo é ser agressivo isso dependerá da situação, do contexto e do seu objetivo numa determinada situação. E qual o comportamento mais adequado em cada situação? Isso vai depender 1º da relação interpessoal que estamos vivendo e 2º das nossas crenças e objetivos no que se refere à situação. Ser assertivo ou não, é um sinal de inteligência e de competência social, mas, às vezes, ser assertivo não é a coisa mais correta a se fazer.
          Comportar-se assertivamente nem sempre é fácil e muitas vezes precisa de treinamento, principalmente se estivermos envolvidos emocionalmente. É relativamente fácil agir assertivamente com pessoas que não conhecemos e que provavelmente não iremos mais travar relações. Mas, se a pessoa em questão é do nosso círculo de relação e mais ainda quando é íntima, fica mais difícil comportar-se assertivamente. Os grandes vilões da assertividade são o medo e a culpa. Quando lidamos com esses estados emocionais dificilmente conseguimos desempenhar comportamentos assertivos. Geralmente temos dificuldade em dizer não, recusar pedidos nas relações íntimas porque, na maioria das vezes, estados emocionais como o medo ou a culpa estão envolvidos. Como exemplo descreveremos comportamentos de duas mães para fazerem seus filhos comerem. A primeira diz para o filho comer: ”Come, senão TE mato” (manipulação pelo medo), já a segunda argumenta para o filho comer: ”Come, senão ME mato” (manipulação pela culpa). Em ambos, os casos os filhos acabam agindo passivamente e comendo.
          Como avaliamos nossa assertividade? O quanto somos assertivos? Em que situações e com quem? Perceber as reações dos outros nos dão dicas valiosas, mas o cerne da questão está em observarmos o nosso comportamento. Estamos satisfeitos nas nossas relações interpessoais? Colocamo-nos numa relação de igualdade para com os demais, nos respeitando e honrando nossos valores e quem nós realmente somos?   
O comportamento assertivo se subdivide em categorias e envolve:
Fazer pedidos: Inclui pedir favores e pedir ajuda. Os pedidos devem ser claros, diretos, objetivos e não precisam de justificativas ou pretextos.
Pedir mudança de comportamento: Deve incluir a descrição do comportamento que queremos suprimir, e a especificação da mudança desejada.
Recusar pedidos: Não devemos justificar ou dar pretextos para a negativa e precisamos ser persistentes na resposta.
Dizer não: Dizer “não” quando desejar e não se sentir culpado por fazê-lo com firmeza e usando a persistência.
Expressar amor, agrado e afeto: Expressar amor, agrado e afeto de maneira adequada fortalece e aprofunda as relações.
Expressar incômodo, desagrado e desgosto de modo justificado: Expressar e especificar o incômodo para o outro e, se possível, assinalar consequências positivas para que motive a mudança.
Fazer críticas: A crítica deve ser feita ao comportamento e não à pessoa, devemos falar do comportamento que não gostamos e não do que pensamos da pessoa que executa aquele comportamento.
Receber críticas: O comportamento desejável seria deixar a crítica seguir até o fim para que expressemos o que desejamos, quer seja para nos justificarmos, quer seja para pedirmos mais informações.
          Para cada categoria existem propostas de técnicas comportamentais para o treinamento das mesmas que, resumidamente, elencamos a seguir:
  1. Disco Rachado ou Disco Quebrado
    Consiste na repetição contínua do seu ponto de vista com um tom de voz moderado, calmamente, sem responder à argumentação do interlocutor. Essa técnica pode ser usada para recusarmos pedidos.
  2. Nevoeiro
    Nessa técnica, refletimos ou parafraseamos o que a outra pessoa acaba de dizer no todo ou em parte, mas permanecemos imóveis em nossa posição. Colocamos que o interlocutor pode até ter razão, mas não admitimos que tenha de fato razão e continuamos com nosso próprio juízo. Essa técnica pode ser usada para recusar pedidos e para receber críticas.
  3. Acordo Viável
    Essa técnica consiste em propor um acordo que contemple as duas partes envolvidas na conversação. Mas nem sempre é possível se chegar a um acordo porque nem tudo é negociável. Em situações em que o auto-respeito está em jogo ou que os valores sejam violados, não há negociação. Essa técnica pode ser usada para recusar pedidos ou chegarmos a um consenso do que podemos fazer diante de um pedido.
  4. Técnica do Sanduíche
    Essa técnica consiste em apresentar uma expressão positiva antes e depois de uma expressão negativa, para suavizar a expressão negativa (crítica) e para aumentar a probabilidade de que o receptor escute claramente a crítica. Elogiamos; fazemos crítica e depois elogiamos de novo. Essa técnica é usada para fazermos críticas.
  5. Técnica do Cheeseburguer
    A técnica do Cheeseburguer é a junção da técnica do sanduíche com o pedido da mudança de comportamento. Nela primeiro nós elogiamos, depois criticamos,pedimos a mudança de comportamento colocando exatamente o que queremos que a pessoa faça e, no final, elogiamos novamente.
  6. Questionamento Negativo
    Nessa técnica interrompemos o ciclo do crítico provocando mais críticas a nosso respeito e pedindo maiores informações sobre o que está sendo criticado. Essa técnica é muito interessante para distinguirmos críticas construtivas das destrutivas. É usada para recebermos críticas.
  7. Modelos de Pedido de Mudança de Comportamento
    O TRAP (Problema, Resultado, Alternativa, Resultado Final - em inglês: Trouble, Result,Alternative, Payoff) e o DESC (Descrever, Expressar, eSpecificar e Consequências) representam dois modelos de pedido de mudança de comportamento. No TRAP, o conceito central é especificar em termos concretos o comportamento que deseja mudar, as consequências, as alternativas e o resultado final com ganhos. No DESC, os passos são: Descrever o comportamento, Expressar o incômodo, eSpecificar a mudança desejada e assinalar as Consequências positivas.São técnicas utilizadas para expressar desagrado ou incômodo de modo justificado ou para pedido de mudança de comportamento.
    Em suma, a assertividade é uma habilidade social e como toda habilidade social precisa ser praticada. Sem prática e exercícios não há aquisição de assertividade. Exatamente por isso, os trabalhos para desenvolver assertividade priorizam o aspecto comportamental. No entanto, vale lembrar que os aspectos cognitivo e emocional precisam ser trabalhados para que a aquisição seja plena.A assertividade é uma habilidade fundamental para o crescimento e desenvolvimento pessoal porque, quando somos assertivos dizendo e fazendo o que queremos, além de dirigirmos nossas vidas, ganhamos tempo e energia para nos dedicarmos às coisas que realmente importam para nós. Um desempenho social assertivo gera autoconfiança e motivação para potencializar forças pessoais que promoverão bem estar e maior qualidade de vida.


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